quinta-feira, 19 de maio de 2011

Tratado agreste



A seca infernizava
a paciência dos mais velhos
e ia tirando a cor das matarias de vagar,
Roendo cada esperança,
Deixando no chão os seus vestígios.

No tempo, cirandava o desespero
Como um desacato que salpicasse
a aflição nos olhos das mulheres.


Um murmúrio em cinza
desterrava das sombras do dia,
Erguia sob os tabuleiros
a cantiga extenuada do tormento.

Dignficando o nome da tristeza
O poema que havia
sabia-se tão pesaroso
Que sequer pelejava um repente
com os sabugos
Refugados da safra antepassada.

Estilhaços de ventanias
grafavam na aurora
Um olhar futuro.

Um tratado agreste haveria de ser cumprido.
Mesmo que secassem as cacimbas,
evaporassem vagarosamente os açudes,
e as nuvem chupassem para o céu
todas as piabas e tilápias,
Continuaríamos ali. Forcejando ladainhas,
Desfiando um rosário de esperanças.
Pois é nosso oficio lamber nesse chão
o sabor de nossos sonhos.

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